fonte: O Globo

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) investirá cerca de R$ 10 milhões em pesquisas sobre a fosfoetanolamina, substância que supostamente combate o câncer. O anúncio foi feito em Brasília pelo ministro Celso Pansera em reunião na última quinta-feira, com pesquisadores de várias instituições como o Instituto Butantan e as universidades federais do Rio de Janeiro, do Ceará, de Santa Catarina e outras. A ideia é que os novos estudos sejam conduzidos por laboratórios que têm parcerias firmadas com o MCTI, além do Instituto Butantan e de instituições ligadas ao Ministério da Saúde.

— Já passou da hora do governo entrar nessa questão. Precisamos saber se, de fato, essa substância é eficaz no combate ao câncer — declarou o ministro Celso Pansera, que já na próxima segunda-feira, ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Castro, definirá um cronograma das pesquisas. — Nós julgamos fundamental tratar essa questão com transparência, em função da comoção social que foi criada.

Segundo Pansera, os laboratórios de Santa Catarina e do Ceará, parceiros do MCTI, serão os responsáveis por teste in vitro e em animais.

O ministro explicou que esses laboratórios irão reproduzir a “pílula do câncer”, desenvolvida em 1990 por Gilberto Orivaldo Chierice, um pesquisador da Universidade de São Paulo, e que causou comoção em São Carlos. Pacientes com câncer fizeram filas e entraram na Justiça para que a USP fornecesse o material, mesmo sem testes sobre sua eficácia, complicações nem regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

— Essa pílula contém a fosfoetanolamina sintética com estrutura molecular alterada e por isso precisamos do material que a USP desenvolveu. Eles fornecerão um quilo da substância que será copiado. Esse material vai ser usado para testes in vitro e em animais — falou Pansera.

Segundo a pasta, o valor será investido num período de dois anos. Do total de R$ 10 milhões, 20% será alocado do orçamento em vigor, de 2015. O restante entrará na conta dos anos de 2016 e 2017. As pesquisas serão acompanhadas por uma comissão que conta com o acompanhamento da Anvisa, das pastas de Saúde e de Tecnologia, além de pesquisadores.

— Pesquisadores se juntam quando trabalham com temas comuns, mas desta vez, há uma colaboração interessante tanto dos pesquisadores quanto de instituições do governo. Câncer causa um certo desespero nas pessoas e temos de ter certeza se essa substância é eficaz ou se é um engodo — disse o médico Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantan e professor titular de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP.

Kalil explica que apesar de existiram várias pesquisas sobre a fosfoetanolamina, incluindo em animais, é preciso fazer agora testes sistemáticos, obedecendo protocolos internacionais para checar o metabolismo da droga e toxidade para só então estabelecer doses e regimes de tratamentos.

Ele falou ainda que os testes serão feitos in vitro (com células tumorais) e em animais sem câncer (para checar efeitos colaterais e dosagem). E acredita que em um ano será possível realizar testes em humanos.

— Em paralelo a esses laboratórios, nós pesquisadores continuaremos a estudar o efeito da substância em células doentes para identificar quais os casos mais eficientes. O Butantan, com o Durvanei Augusto Maria, usou as pílulas da USP e já identificou, em testes in vitro, as melhores respostas celulares para alguns tipos de câncer.

Kalil afirmou que o Butantan estudou linhagens celulares de tumores de melanoma, pâncreas, renais, leucemias, mama, osteossarcoma, pulmão, tumores da cavidade oral e de fígado. E os melhores resultados foram com o câncer renal, melanoma e leucemia.

Pansera disse também que a legislação brasileira tem uma série de prazos que demoram e que a ideia é usar estudos já feitos para agilizar o processo de pesquisa.

— Tem alguns princípios que a gente não pode deixar de lado, que é a segurança do cidadão que vai utilizar o remédio e a eficiência dele. Nos sentimos na obrigação de dar uma resposta segura para um drama da humanidade, e não só dos brasileiros, para o que é uma das maiores causas de mortes e de gastos com saúde no mundo todo.